17.9.05

martian hotspot



“O vento nos fará areia

E o concreto tornar-se-á areia

E o aço das estruturas se corroerá em areia

Tão logo meus olhos se embotem

Semi-cerrados de deserto”







Viaduto do Chá, Centro de São Paulo, SP. Foto de Cristiano Mascaro

16.9.05

Trégua

quero trégua. fujo, vago, tenho a língua sêca. sinto faltas, impotência, desilusão. afasia. torpor. ócio. os pulmões tomados de peso.



escrever é realmente árduo. nunca vai sair do jeito certo - e eu já estou mais velho que meu avô; na verdade somos todos mais velhos, cada vez mais, pois o tempo se acelera cada vez mais.

minha infância deve ter se perdido n'algum porão inominável. a criança que desce as escadas no escuro e não volta nunca mais. um dia vou encontrá-la numa garrafa velha. talvez aproveite para trocar a rolha.



entra-me uma insolação na horizontal do fim de tarde, mais não consigo imaginar. preencher as linhas é tedioso - pior para mim mesmo, dormir nunca amenizará as dores latentes, o olhar de Caim que trago comigo desde a mais tenra consciência. pensar dói - é sempre impreciso. e como é cruel desprezar o próprio erro! não somos complacentes conosco nunca. por que o seríamos com os outros, então?

nós pensamos e morremos - morreremos - de tanto pensar, e por pensar criamos a guerra, para vencer a dor por princípio homeopático - simila similibus curantur - e ganhar a paz por exaustão. 

a guerra nos derrotará a todos - nós e os princípios - seja qual lado for onde estivermos.

 guerra é vício. é inevitável. daí a afasia, o torpor. a impotência de não conseguir deter os punhos antes que espirrem os rubros suores do cristo que desprezo no meu inimigo pior: eu mesmo.



w w w w w w


há uma mulher em mim, uma mulher que mostra as canelas e lança os olhares cobiçosos para o mundo, para a superficialidade revolta das novidades mesquinhas do mundo. ela ri, atônita com a própria inexplicação. ela gera uma idéia vaga de si mesma; gera-se como a um rei na barriga; o rei é filho deste corpo sinuoso e herege - e ela comprime as unhas contra os seios magros.



há um homem em mim, esse que ainda dorme um olho dentro de si, pensante e cético - tudo tão lógico, tão factível - e há o outro olho, violento e dominador, gato ou cão que joga o jogo do poder. mas nunca pôde nada, não pode agora e talvez nem mesmo sua casa tenha endereço certo, pois seus músculos não construíram paredes quando podiam - o olho sonado enjaulou-os como a um psicótico minotauro, e eles ferem a própria consciência, como foices num quarto escuro, dilapidando-se todos os dedos de ambas as muitas mãos.



meu compasso é de outrora, então chamo pela consumição - esta que nunca virá - e empalideço com o algoz do outro lado do espelho, multiplicado ao infinito. ele me retribui o sorriso.



vou apodrecer como Dorian Gray, cercado das mentiras que escrevem minha gloriosa história aos olhos crédulos que imagino arrogantemente cativar.

 ou um dia, como Crusoé, encontre a felicidade na ilha de mim-mesmo com Deus, a sós eu e Ele. 

Será numa sexta-feira.


15.9.05

ELA NÃO PODIA EVITAR

Ela estava sentada no escuro da sala.

Olhava fixo para o quadro atrás da mesa de jantar, onde os poucos reflexos da rua morriam, na penumbra das cores incertas.

Os vagalhões eram enormes pinceladas, obtusas e disformes, como se a poesia ali nascesse por acaso de um fortuito e insuspeitado enlace entre as massas de tinta e os espaços vazios, à revelia do artista, "incongruências harmoniosas" e espumantes no que parecia um horizonte longínquo - uma quase malformada linha plana no alto da tela.

Era noite quente e silenciosa - nada mais só para Anita, à flor da pele sob um teto de zinco.

Onde estariam as espaçonaves alienígenas, hora destas?

...e nem sequer viris psicóticos, brandindo serras elétricas.

Apenas noite quente, e só.

Insone, acendeu a cozinha para preparar uma vitamina.

Os pés descalços circulavam mecanicamente, velhos conhecidos daquele piso xadrez.

Escolheu quase aleatoriamente algumas frutas, providenciou o liquidificador, e logo os pedaços grandes de maçã eram triturados pelas lâminas de aço, chocavam-se contra o copo transparente e escorriam para o fundo, caminho único para a morte do fruto e o renascer em suco, em domínio do humano controle sobre as criaturas.

Outros pedaços, de manga e bananas, foram colocados, e igualmente duelaram contra a máquina extintora.

O barulho digestivo era ensurdecedor, e Anita percebeu que uma das lâminas havia se partido, durante a peleja.

Dentro, o silêncio da revolta contida, das formas reprimidas e convertidas. Mais harmonia. Mais progresso, e prova disso era o uníssono do liquidificador, invencível. Dominante.

Desligou.

Novamente silêncio. Ensurdecedor silêncio. Obliterante.

Julgou ouvir o sangue a percorrer-lhe; as conexões cerebrais, o pulsar dos corpos, a freqüência da Terra, os ventos solares.

A vitamina expirou algumas bolhas de ar, contaminando aquela atmosfera de suspensão. Anita realmente não tinha sede, sequer fome.

Mas ouvia o vazio; há dias sonhava com ele. Aguardava através das noites impaciente, de olhos semi-abertos, focando a porta por onde ele entraria, sorrateiro.

E embora os dias passassem, viessem e morressem, renascessem e perdurassem, insípidos e inexoráveis - ela sabia que apenas tardava a hora em que ele chegaria. Então esperava.

Riscou um sem-fim de dias nos calendários, consecutivamente. Escrevia e reescrevia cartas de despedida, endereçadas a estranhos. Vivia o último dia sem findar de últimas horas.

Bilhetes de instruções espalhavam-se pela casa, resumindo os detalhes a não esquecer, no último instante.

E no entanto agora, rugas de distância dos tempos em que mal dormia, ela o pressentia. Como um sentimento vivo de alheamento, de subtração, de paz medonha e escura.

Empunhou o copo, onde desaglutinavam já os sumos adocicados da derrota. Sorveu um gole lento.

A entrega seria fatal, mas a queria? Talvez. Dar o passo no sem-espaço poderia não completá-la, não conformá-la. O vazio atraía-lhe, sentia os pêlos magnetizados, o corpo tendendo para a porta, os olhos mortos naquela direção.

Com dificuldade, talvez relutância, bebeu outro pouco.

Calafrios varavam-lhe as coxas, dorso, nuca.

O incômodo da espera motivava vida; vivera pela espera incerta do desconhecido. Sofrera o mal de corroer-se interiormente por ele, venerara-o, mitificara-o . Não era tudo. Era o nada.

O silêncio absorveu o resto da vitamina. Os móveis, a pia. Algum pouco de chão atrás da porta e Anita Rinsac sobraram indecisos. Ela teria de girar o trinco. Teria de abrir a porta, olhar o outro lado - se é que ainda estava lá.

Quis sentir o gosto da manga, mas fora-se com os instantes.

O deslocar dos olhos, constatou, devorava o entorno.

Fixou os olhos na porta.

Os batentes foram-se, os trincos e dobradiças também. Era questão de um passo.

Fechou os olhos, sem espera. Sentiu a negridão severa abraçar-lhe à distância. O breu das almas que rondava seguro, apertando o cerco... Brincava de vilão, seduzia, envenenava.

Anita sentiu frio, e instintivamente cobriu os seios nus e o ventre com as mãos. Dali não sairiam vidas, nem continuidade.

Quis dar o passo vendado,mas não sentiu os pés.

O Vazio fora chamado, e de longe viera, solícito. Impunha-se: era Cobra Grande que serpenteasse por entre as pernas e braços dela, instigante. O abraço cordial dos vencedores.

Anita abriu os olhos.

Escuro, mais escuro.

Era quase comunhão, quase vítima imolada e concorde com o Mal... faltava-lhe o busto e a cabeça ainda vivos.

Da garganta se arriscaram alguns soluços abafados. Ainda respirava, apesar, e a língua tencionou rebelar-se.

Ergueu o queixo para a réstia de ar que lhe envolvia a cabeça, no estertor vulgar dos quase-afogados.

Encarou o Vazio.

Ele sorria-lhe, insaciável. Infinito. Impermeável a entendimentos.

Sobraram os olhos. Tardava a fechá-los, recusava o final instantâneo.

Lacrimejou, estática. Não houve som, mas a produção de espaço estranhou o Vazio.

Ela não podia evitar, e choveu e salgou espaços iriscidentes, irradiantes, naus embarcando rumo ao desconhecido, peões que se atiravam contra o inimigo inevitável.

A mudez do nenhures agitou-se, incomodada.

Os olhos vertiam copiosa efluição, nublados, abrindo espaço e gerando tempo.

O Vazio retraía-se, cachoeiras incontíveis o condenavam aos limites do entorno cada vez maior de matéria, esta que abria dedos e raízes em todas as direções.

Os olhos eram fontes, e as fontes recriaram o corpo, lábios e sons, ventre e vida, o pé incerto que achou o chão e tombou, diante da porta aberta com trincos e dobradiças, bilhetes voando em meio à ventania que soprou forte o dilúvio de lágrimas, trouxe terra seca e o copo vazio pela metade, Anita desfalecida à soleira de casa.

Novamente silêncio.

Silêncio cheio. Completo.

Ela balbuciava com os dedos, sobre o chão xadrez.

Alguns pássaros matutinos alardearam as primeiras horas, do primeiro dia.

Anita ouvia. Ficou só ouvindo. O Sol penetrar solene o globo azul do dia, o mato evaporar o orvalho.

A espera a esperava, novamente e sempre.

E lembrou da lâmina, partida.


Chácara, 21.09.2003

14.9.05

Quando criança, eu gostava de ficar ouvindo os eletrodomésticos de casa funcionando, ininterruptamente.

 Cantava junto ao zunir do aspirador de pó até que nossos timbres se harmonizassem, num mantra pós-moderno.

 Mentalizava revoluções rítmicas de alta aceleração, acompanhado do liquidificador.

 Me deixava levar por horas, alheado, ao som compassado da máquina de lavar roupas, imaginando fascinado um instrumento - que eu não sabia já ter sido formulado - chamado moto-contínuo.



Quando criança, por muito tempo levei na cabeça o problema de tentar expressar algebricamente a condição do círculo - que ao contrário das outras figuras geométricas, não possui faces externas limitadas (ou possui infinitas).

 Queria crer que o tempo-espaço se comportava de modo particular dentro das bolhas de sabão (embora ainda não o soubesse verbalizar), e que quando duas se encontravam, era como dois universos em colisão, ao cabo da qual desapareceriam: as bolhas estouravam.



Quando criança, meu mundo acabava nos muros, meu céu era um grande cobertor azul, e meu cobertor era uma complexa geografia de vales e montanhas pelos quais viajava com meus brinquedos.

 Meu brinquedo era criar-descobrir o mundo insondável que me envolvia.



Hoje meu mundo é elementar, óbvio e redundante.

 Minha função é acrescentar braços à burocracia que me mantém vivo.

 Os muro caíram - e atrás havia ruas, edifícios e mais muros. O cobertor desta rotina às vezes é curto.



Mas o céu desvendou-se infinito, e para além a complitude acenou-me com o colorido de minha intuição primeva, sussurrou-me o caminho dos ventos e das pedras, lá depois de mantras e liquidificadores, geometrias e incongruências, onde o tempo nos consola e o espaço nos abraça, eterno.


13.9.05

enquanto isso

enquanto os passarinhos passeiam no gramado sob o olhar severo e indócil dos gatos que adormecem com um só olho, e as mariposas emudecem nas vidraças coloridas de meu átrio interior, e estilhaços repartem fígados aos desvalidos de toda espécie;

e o Astro-Rei funde bombas ignominiosas - e estas esperam as pernas sãs por meio das quais se libertem da areia e do anonimato e da integridade volátil que lhes resume o existir - e chineses respiram o carvão dos filhos bastardos de Adão e mujahedins passeiam nas amuradas sagradas sem desmerecer seu cubo negro e o fogo de Alá;

enquanto redescubro que meu redor está colado aos meus olhos, e meus olhos estão fixos sobre as palavras inexatas e espúrias de um jornal velho que desconhece os Céus, e reboares de estrelas ainda aviltam a paz dos cantos escuros, e cantos e contratempos se dispersam pelo Cosmo na voz doce e suave de um comercial de rádio do tempo de meu avô;

eu me desfaço de outro cobertor, numa quente madrugda de um hipotético inverno tropical, me viro, reviro e continuo a sonhar com mandacarus que nunca verei, e outros despropósitos pueris.

12.9.05

improváveis efemérides 07

O ocorrido em 03 de Outubro do ano de 1848 está amplamente registrado nos diários perdidos de Edgar Allan: pouco depois da hora do almoço, o cavalo branco lhe pediu um filé com fritas. Como não dispusesse de semelhante iguaria, Edgar prontamente ofereceu-lhe uma cenoura, no que foi agredido a coices e mordidas. Na delegacia, apenas o escrivão percebeu o rótulo da garrafa sob seu braço: “White Horse, 12 years”.



As luzes piscaram três vezes na madrugada de 15 de Julho de 1957. O sinal estava dado: e o grande plano para a conquista do mundo pelos vigias noturnos estava em marcha. Miss Daisy, 72 anos, agente infiltrada a serviço da CIA, estava pronta para deter a surpreendente insurreição: mas as barras eram fortes demais no hospício de Mandaratiba da Serra.



Os papéis chegaram por engano, num envelope roto, naquela manhã de 13 de Setembro de 1903, com o endereço borrado pela chuva. Traziam em letras garranchadas um texto estranho. Assinava “A.E”. Deixaram na mesa daquele funcionário descabelado e meio perturbado que sentava no canto. Anos depois, durante a entrega do Nobel de Física, ele mostrou a língua para o mundo. Mas o professor aposentado Anton Erdinger jamais recebeu um marco furado por isso.



O DJ Cafa, quando não está discotecando em Londres, costuma passar as madrugadas junto ao dial do seu aparelho de radioamador, de onde tira ruídos que transforma em sets de experimentos sonoros. Em 30 de Janeiro de 2003, ele interceptou uma conversa secreta da polícia de Foz do Iguaçu com terroristas árabes. “Eu adorei a textura daquelas vozes”, disse recentemente a uma revista semanal. O CD-Remix já está à venda, e é o hype das noites de terça.

11.9.05

improváveis efemérides 06

Laura Kern sempre participou da coleta de lixo seletivo em sua comunidade, no sul da Flórida. Em 27 de Abril de 1998, após um mutirão de limpeza nas praias locais, a simpática aposentada vislumbrou transformar em arte os objetos encontrados: sua instalação com garrafas e mensagens de cubanos foi muito aplaudida no Chá da Liga das Senhoras, e está exposta no golf clube de Tallahassee. A obra figura entre as mais sensíveis expressões artísticas contemporâneas.



A situação estava tensa no metrô de Nagasaki, a 10 de Fevereiro de 1999. As negociações já duravam uma tarde inteira, e o destacamento do exército não parecia dar sinais de recuo: ou os motoqueiros suspeitos de espalhar sarin abandonavam o vagão com as mãos para cima, ou iriam abrir fogo. Uma inesperada ligação dos estúdios chegou tarde demais – e um grupo de covers recebeu as medalhas de heroísmo, no funeral. O episódio ficou conhecido em toda Hokkaido com o “O Massacre dos Changeman”.



Sabe-se que o pianista francês François-René Duchable não pára de tocar enquanto pedala, espalhando música erudita e terror pelo trânsito parisiense, com seu pianocípede. Em 07 de Maio de 2004, na última vez em que cruzou o farol vermelho concentrado na “Nona de Beethoven”, uma jamanta quase lhe arrancou a perna esquerda, junto das oitenta e oito teclas, cordas, instrumento e rodas dianteiras. Para François, não passam de um bando de bárbaros. Reconstruído o pianocípede, ele agora pensa em levar suas melodias ao Tour de France. “E para fazer jus ao ritmo da prova”, diz ele, “tocarei Paganini”.



Em 05 de Maio último, uma flor carnívora engoliu o gato da Sra. Bill. Numa operação de emergência, abriram a planta e descobriram também um pé de sapato tamanho 46, um chapelão de cowboy e uma sunga vermelha. A exótica flor faz parte da coleção de raridades do Sargento Bill, que, preocupado com a saúde da Sra. Bill e já que o sapato não lhe serve, vai começar a deixar o vaso com a flor dentro do armário. Do quarto.

10.9.05

improváveis efemérides 05

A telefonista Gelsomina Pasmaccera transferia até 22.500 ligações por dia para uma central elétrica na Toscana. No domingo passado, porém, desapareceu misteriosamente após um blecaute gerado pela central. Alguns dias se passaram até que um repentino sinal telegráfico nas linhas despertasse estranhamento na equipe de operadores, e sua mensagem não deixou dúvidas: alguém pedia U$$ 1,000,000.00 e um avião em troca da memória dos sistemas. As autoridades julgaram tratar-se de um trote adolescente. Até algumas horas atrás, de acordo com agências de notícias, o vírus “gelsomina” já desligara mais de um milhar de computadores.



Em 28 de Julho de 2005, a modelo, cantora e atriz Patty Faria estará completando 138 anos, de acordo com seu terapeuta e jardineiro Áurio Silveira. Ele garante que ela está em sua melhor forma, apesar da idade. Em pleno curso de sua terceira encarnação, a artista foi recentemente podada, e florirá na primavera. Áurio, cuidadoso, a rega todos os dias.



Em 15 de Maio de 1372, sob uma figueira, o célebre matemático e alquimista Antiquus cogitou a possibilidade de estarmos todos gerando linhas de mundo no espaço-tempo de um Universo tetradimensional, influenciados pelos warm-holes e a constante de Planck. Pensou então em tomar nota das elucubrações, quando a meio caminho foi atropelado por uma manada de bois almiscarados.



N’Bae sempre trocou cocos por bananas com seu amigo Tatala, durante as festas da colheita anual. Há 5 anos e 13 meses, porém, uma experiência nuclear próxima às ilhas onde mora modificou as sequências genéticas da flora local, gerando versões inéditas das duas frutas. Hoje N’Bae lidera a resistência contra os bananais revoltosos, apoiado pelos cocais do Sul do país. A guerrilha já se estende ininterrupta desde 2001.

9.9.05

improváveis efemérides 04

Luciano Montenegro nasceu em 03 do 03 de 1953, às 13h30 de uma terça-feira. Todas as casas em que morou possuem o algarismo 3 ou múltiplos dele no número de endereço (300, 993). Tem três filhos, três profissões e reclama de alguma coisa pelo menos três vezes por dia. Em 03 do 03 de 2003, deve ter esperado que alguma confluência cósmica o atingisse, com um improvável raio tríplice. Não aconteceu.



John Johnson não estava em um de seus melhores dias, a 12 de Outubro de 1963, quando seu carro foi repentinamente tragado por um bólido voador em El Paso, nas proximidades da fronteira com o México. O fenômeno pôde ser observado uma dúzia de vezes pelo grupo de técnicos presentes na ocasião. A cena acabou sendo cortada na versão americana, mas John Johnson acredita que tudo não passa de preconceito por sua origem alienígena.



Há exatas algumas semanas, o piloto de helicóptero Charlie Nameless-Soldier pensava em balas-chiclete, Coke gelada e sua namorada Suzie, não necessariamente nessa ordem. Não teve tempo de pensar em mais nada: um “fogo amigo” destruiu as hélices do aparelho que comandava, lançando-o ao chão com mais quatro soldados, três mísseis balísticos, sete granadas, oito toneladas de aço e duas cervejas quentes. O co-piloto, de codinome “Hollywood”, também sonhava com chiclete, e sua cadela Barbra.

Ninguém sofreu um arranhão.



Há exatas algumas semanas, o taxista Ahmad Mahal pensava em sua pequena Soraya, seu galo de briga e as catorze virgens que o esperam no Paraíso, não necessariamente nessa ordem. Não teve tempo de pensar em mais nada: cinco soldados, três mísseis balísticos, sete granadas, oito toneladas de aço e duas cervejas quentes caíram repentinamente sobre sua cabeça.

Ahmad sempre troca o nome de alguma das virgens.

8.9.05

improvaveis efemerides 03

Em 04 de Abril de 1500, o português Joaquim Manoel de Souza realizou a última refeição à bordo da nau que, pouco depois, atracaria nas areias de Pindorama. Vitimado por um súbito mal-estar, vacilou nas muradas do convés, e acabou virando comida de tubarão. Considerado o primeiro mártir do Descobrimento, sua saga foi relatada nas cartas de Pero Vaz, mas as respectivas páginas foram devoradas por um perturbado tupinambá.


Em 08 de Abril de 1972 o Zé Pereira correu até o orelhão mais próximo, para saudar em tempo sua madrinha Georgina pelo 64º aniversário. O aparelho era clandestino e a conversa, cifrada e grampeada, serviu de fonte para militares apreenderem material bélico de subversivos em uma residência na zona sul do Rio. O sargento Pereira foi condecorado. Georgina, hoje aos 97 anos, passa bem em Muribeca dos Guararapes.


05 de Abril de 1744 foi o dia em que Jean Jacq Jeguillot apertou o último parafuso. Quatro dias depois, porém, um suspeito incêndio destruiria sua garagem, e junto a primeira promessa de sucesso em forma de aparelho voador mais pesado que o ar.


Na noite de 12 de Abril do ano de 1986, um senhor calvo e sem pálpebras esperava, como há longos 53 anos, reclinado nas rochas à beira-mar da ilha de Lençóis, Maranhão, a volta do rei D. Sebastião. Por volta da meia-noite, testemunhas garantem ter ouvido os relinchos de um cavalo, embora a ilha não possua espécime algum do animal. Devido à forte tempestade que se seguiu, ninguém pôde confirmar a facticidade do fenômeno. O tal senhor, de nome ignorado, nunca mais foi visto na ilha.

7.9.05

improváveis efemérides 02

Há improváveis 3.609 anos morreu o primeiro maquinista da História. É o que sugere uma recente escavação de arqueólogos ingleses, quando ao desenterrarem ruínas de esquecida civilização, depararam com uma antiquíssima urna funerária, identificada como pertencente `a nobreza da referida época. Foi encontrada no jardim de um velho brâmane, no Hindustão, e entre os pertences que repousavam junto aos restos do corpo encontrou-se um pequeno diário, datado de 1965, onde se lia a inscrição: R.F.F.S.A.


Comemora-se em Abril o aniversário do primeiro registro multi-simultâneo de patente, para produtos idênticos em lugares distintos. O curioso caso veio à tona com o processo movido pelos hipotéticos 284 ‘autores’ do produto contra os também hipotéticos adversários, na briga pela legitimidade da obra. A façanha chegou aos tribunais, mas o julgamento não pode ser levado a cabo: o juiz encarregado era um dos reclamantes.


30 de Fevereiro será lembrado para sempre como o dia em que o mar invadiu o sertão do Piauí. A previsão é de Dona Iaiá das Gerais, conhecida sensitiva em Diamantina. Segundo ela, a data será criada em algum momento nos próximos 54 anos, quando a passagem de um meteoro deve atrasar o tempo de rotação do planeta, originando o 30º dia.


Exatos 4000 meses lunares maias atrás eu estava sentado `a frente deste mesmo computador, escrevendo semelhantes palavras e derretendo lentamente o mesmo gelo na boca, para desespero de meu dentista, que lá como cá, está preso como eu `as frações de tempo-espaço que vagam soltas no Universo, estáticas, até que Desconhecida Força lhes empreste vida - a mesma vida que na fração seguinte animará outra das muitas cenas que esperam, pacientes, desde o início de tudo.

6.9.05

improváveis efemérides 01

víboras cujos fósseis nunca foram encontrados aguardam a cheia do Nilo numa madrugada incerta de Março, em meados de 3003 a.C.


vasos com chifres de Baal Malek estouram aos primeiros sinais do vulcão que destruiu Atlântida, há exatas centenas de séculos múltiplos de doze precedentes `a morte de Marco Antônio, nas praias do Mediterrâneo.


Um espoucar de estalos num apartamento vazio de Chicago faz - pelos mistérios da ondulatória - o mesmo edifício alcançar o duvidoso índice de 4,5 na escala Richter, provocando um reflexo de frequência que vitimou meio milhar de pessoas em combustões espontâneas. O fenômeno ocorreu na primavera de 1883. Não há registros confiáveis.


Um estudo científico comprovou que a cada 392 anos todos os semáforos de Ulan Bator sincronizam seus sinais vermelhos. Há expectativas para uma recorrência do estranho efeito para os próximos seis meses.  Conferências de especialistas já estão marcadas, e estima-se que turismo local deva receber, por isso, um investimento de aproximadamente US$ 300,000.00, este ano.
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