18.9.23

Primeiro houve um tempo... depois o ralo o engoliu.

 Treze anos escorreram por entre os dedos que agora escrevem. Não se foram com as enchentes que ora assolam certas plagas em latitudes mais ao Sul: isso vem de muito antes, homeo-hipnoticamente. Treze vezes doze vezes trinta, e incontáveis horas de desventuras em série. Olhando para trás, o tempo se achata às minhas costas, encolhendo as memórias, apagando os rancores, amarelando até as pequenas graças. Nada que mereça ser recontado, pouco a confidenciar.

Mas não quero parecer indiferente, e com um pouco de boa-vontade dir-lhe-ei que angariei, ao menos, uma certeza crescente: nesse labirinto diuturno dos caminhos que raiam de Roma para o mundo - e na curva das linhas que se encontram no horizonte, do mundo de volta para a velha cidade -, mantermos os pés na estrada é o que nos garante a vida em progressão contínua, esse moto-perpétuo que gira as engrenagens dentro do peito, e nos carrega - ó ironia! - para novos solavancos. Mas Deus não joga dados, e o desconhecido para nós Lhe é completamente previsível - ainda que não o saibamos até o átimo seguinte a qualquer uma de nossas mais prosaicas escolhas.

Em cada nova curva, o padrão vai se formando: de déjà-vus e bugs na matrix a plágios, copycats e engenharias reversas, o mundo começa a parecer, mais e mais, uma caricatura de si mesmo. Como as piadas requentadas que atravessam os séculos, ou aquelas cascas secas de laranja que insistem em deixar sobre as pias de banheiro, exalando a verdade agridoce da decomposição que a tudo corrói, em seu devido tempo.

Acreditei que a escrita se burilaria, que aprendizados se acumulariam, que certezas se enraizariam - em mim. Guardei este momento futuro com um aviso para o porvir: "Lembrar de voltar aqui quando as paixões arrefecerem, e escrever seja tudo que me reste". Bem: as paixões se tornaram vícios, e a prosa esqueceu a poesia.

Lançarei ainda uma garrafa às águas, com o mapa do tesouro à vista. Meu bote, à esmo, há de ser arrastado até um vórtice oceânico, sem lanterna alguma, só lamuriosos afogados; mas a mensagem perdurará: um chamado à imaginação irreverente, ao delírio das quimeras, à espuma do tempo que tudo apaga, embala, compensa e consola.

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...just someone playing hard.