21.6.06

O Rei Morreu: Viva O Rei!



“Dos dias, o sinal se nota

Levo a parede pelas costas
No canto há uma criança morta
Meu sangue pulsa sem resposta
(A vida é assim mesmo: farta)”


: há exatos 04 anos, esse era o fim de mais uma história que a carne viveu...
mas também no específico dia de hoje tenho novos brotos, digo, novas árvores a comemorar - pelas floradas, pelos frutos doces e maduros, algo ácidos: mas afinal, que seria da juventude sem a 'citricidade' típica? e juventude é, afinal, tudo que posso esperar, para sempre, dos amores que brotam dessa senda, desse pomar, desse jardim dos prazeres, do prazer de viver e marcar de novo a mesma carne - minha memória fervente aos toques do mundo.

à ninfa dos meus sonhos (e da minha vida), que hoje me alimenta o espírito e a carne, meus melhores pensamentos e intenções.


ilustração: "Les Nympheas Blanc", de Claude Monet (1918?)

20.6.06

Cartas Jamais Escritas – Re:

tudo é evidente neste jogo (e o jogo está evidente em tudo): basta atentar para a própria existência para constatar que o ‘nada’ é um relance poético da memória autônoma em você. mas não, não vale à pena lutar contra ela. pois qualquer que seja o resultado, a teoria dos jogos valerá em ter previsto infelizes soluções: um homem sem memória é alguém que apenas nasce, a memória sem o homem é um vago esgar de morte, perene. no mais, experimentamos a suspeitável sensação de construir uma vida, um caminho, uma sequência de experiências mais ou menos bem-sucedidas, com começo determinado, um meio mal explicado, um fim hipotético.mas talvez pensar que “perder é conquistar a certeza de voltar ao ponto zero, ganhar é iludir-se em dar o primeiro passo” nos traga de volta a dimensão do problema. o quanto estamos preparados, quando a hora chega? para tudo, estaremos sempre no ponto zero. e sempre vivos: a memória não é rival, é cúmplice. por saber que o ditado é velho é que não esqueceste a primeira, nem a segunda vez – a memória nunca poderá derrotar-te, e o ponto zero nunca é igual (ou é todas as infinitas possibilidades: o universo em si mesmo)…

a saber: o círculo não é redondo.

abraços,
Megaton Nero.

foto por Any Manetta, via Flickr:Public Domain

19.6.06

Cartas Jamais Escritas - Preâmbulo

escrevi-lhe a respeito de minha memória nebulosa, do medo que tenho de tornar-me um alheio, um transeunte, tão logo este funesto aparar dos fatos se torne um aparar do tempo, dos sentidos, do horizonte. poderei ainda ser eu, sem distar do longe e sequer do perto, sem preencher limites palpáveis, um corpo, um crânio, o ardor de ser quem sou?já não tenho certeza. e repensar o caso é encurtar a corda, pois a memória falha da palavra mesma não reproduz – antes recria – o recém proferido, e o faz ecoar – sem arestas, sem respiros, sem virgular – uma dezena e mais de vezes; e o pensar fica pequeno, as idéias desprovidas do afã, é tudo gasto, repisado, revisto. fico sem saber se é a enésima vez (ou enésima primeira?) que descubro o mesmo velho ditado, que me retorço à mesma (?) velha piada. o mesmo velho sol perde altitude, perde cor; porque nasce todo dia é que não é mais mais sol, não é nada: talvez apenas um eco caricato da estrela que, no dia primevo de minha consciência de mundo, riscou no céu um caminho ao poente. serei nada então, quando as brumas do descompasso engolfarem minha noção de tempo, de espaço, de espelho?

no enquanto, sou a memória viva dentro de mim.

um abraço,
A.Montenegro

foto por
Any Manetta, via Flickr:Public Domain.

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