Luciano Montenegro nasceu em 03 do 03 de 1953, às 13h30 de uma terça-feira. Todas as casas em que morou possuem o algarismo 3 ou múltiplos dele no número de endereço (300, 993). Tem três filhos, três profissões e reclama de alguma coisa pelo menos três vezes por dia. Em 03 do 03 de 2003, deve ter esperado que alguma confluência cósmica o atingisse, com um improvável raio tríplice. Não aconteceu.
John Johnson não estava em um de seus melhores dias, a 12 de Outubro de 1963, quando seu carro foi repentinamente tragado por um bólido voador em El Paso, nas proximidades da fronteira com o México. O fenômeno pôde ser observado uma dúzia de vezes pelo grupo de técnicos presentes na ocasião. A cena acabou sendo cortada na versão americana, mas John Johnson acredita que tudo não passa de preconceito por sua origem alienígena.
Há exatas algumas semanas, o piloto de helicóptero Charlie Nameless-Soldier pensava em balas-chiclete, Coke gelada e sua namorada Suzie, não necessariamente nessa ordem. Não teve tempo de pensar em mais nada: um “fogo amigo” destruiu as hélices do aparelho que comandava, lançando-o ao chão com mais quatro soldados, três mísseis balísticos, sete granadas, oito toneladas de aço e duas cervejas quentes. O co-piloto, de codinome “Hollywood”, também sonhava com chiclete, e sua cadela Barbra.
Ninguém sofreu um arranhão.
Há exatas algumas semanas, o taxista Ahmad Mahal pensava em sua pequena Soraya, seu galo de briga e as catorze virgens que o esperam no Paraíso, não necessariamente nessa ordem. Não teve tempo de pensar em mais nada: cinco soldados, três mísseis balísticos, sete granadas, oito toneladas de aço e duas cervejas quentes caíram repentinamente sobre sua cabeça.
Ahmad sempre troca o nome de alguma das virgens.
FICÇÃO, s. f. Simulação para encobrir a verdade, fingimento: a torpe ficção de patriotismo, com que se investiu para indultar-se de matador de Titãs, de Cronos e quimeras (rapinagem de Camiliana.) Perturbou-se e estremeceu diante de ficções a que nem a poesia ou a arte davam realce e prestígio (Silveira da Mota, 1889) // Fábula, invenção fabulosa ou artificiosa// F. lat. Fictio. CLEPTOCRONIA: tempo que escoa, que nos assalta, que não perdoa