16.3.10

Storia, Storia (para Mayra)

1.

Diziam as línguas que, na ilha, quem era do rei o mar levava. Quando chegava a hora, o touro vinha num repente e se ia noutro - levando o rebento marcado. Não tinha choro que refreasse o bicho, nem vela que queimasse até a manhãzinha no sucesso do intento: daí que muito pai desabotinou, muita mãe perdeu o juízo.

Não era o sol severo, menos ainda o areal dito enfeitiçado que isolava aquele pedaço de terra do resto do mundo, não... eram os desmandos de D. Sebastião nas cercanias da agourada Lençóis que tiravam o sono e punham pavor nas gentes simples dali.

E quem se atreveria com a besta-fera? Quem para encarar o monstro marinho, bancar de herói naquele confim por um tesouro de lenda, enterrado no fundo do abismo dágua sob os recifes? Era demais.

Pois um fi dum cabra local fez que resolveu intentar contra o malassombrado. Rapaz de sorte larga e expressão mais ancha ainda, se achou o dito cujo que acabaria com a maledicência que pesava sobre os ilhéus. Era de palavra fácil, manjado e desdito, e merecidamente por isso recebeu a descrença dos locais, quando anunciou sua temerária empreitada.

Trazendo um quase-nada no alforje, não se fez de rogado. Encheu-se de brios, e na primeira madrugada sem lua, mergulhou na noite opaca das praias do lado de lá.


(continua...)
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