1.8.06

Porque quando acordei as nuvens ainda navegavam, pesarosas naus de ícaros alienados. E porque me fiz de pé agora esqueço e sento novamente, e despisto

com o aval do gato que dormita em meu colo, e nada sabe do amanhã - como eu tampouco posso.

Atrasado para o amor de rotina, vou deixando que ele espere sem que possa me ouvir ou conjecturar - estou a revelia, hoje estou a revelia. Descansando as mãos sobre o mouse e pensando nalguma frase de Edward Said. Não há tempo para a xícara quente que me adoce as mãos, mas talvez para alguma intempérie descartável que, somada às milhões diárias do cibermundo, nos faça menos vulneráveis e mais domesticados.
Talvez tudo não passe de um complô psiquiátrico. Mas também penso, com muito gosto, na possibilidade de estar vivendo o filminho da minha própria vida, antes de morrer definitivamente. Eu? estou imobilizado num leito desgastado de hospital público. E a vida segue como um filminho: inexorável, pois já está feita. Estou saboreando por segunda vez, apenas mentalmente, meu próprio passado.

Ou talvez, numa dimensão paralela - tanto quanto os espelhos das salas de investigações, donde se pode enxergar através do lado escuro, mas não pelo outro espelhado - esteja sendo vigiado pelos espíritos dos mortos, que se riem das minhas mazelas infantis, dos meus gozos pueris, da minha ineficiência e incapacidade de abarcar o mundo.

sei lá.

vou te esquecer novamente... e depois voltar à carga, feito um bisonte ensandecido. então você me pega pelos cornos, enquanto eu te lanço ao ar, antes de rasgar teu ventre. daí ficamos assim, ao relento, esperando os corvos, ambos satisfeitos e sorridentes - gengivas à mostra, lábios espedaçados.

feito?



como hoje, esta manhã aqui em casa estava particularmente enevoada (megaton_nero, 2006: any rights reserved)
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