10.12.08

Lamuriava Intensa Garoa, Inda Agora

...E quando ela é música para os olhos?
E se os acordes valerem muitas mil palavras
(ou uns tantos sorrisos)
E nenhum sequer explicar
Como é senti-la sem nunca
Tê-la experimentado?

E como é desejar seu gosto nos meus lábios?
Como precisar de sua brasilidade indiscreta
(olhos decanos como Pindorama)
Como palmilhar sua geografia decantada,
em dupla-face assim também florescente?

Sonhá-la é validar o impossível.
É viver mais - onde mais vida
Jamais se imaginaria.

14.9.08

Uma sociedade inesperadamente complexa e inesperadamente amazônica

Estradas e muralhas no Xingu apontam para formas de organização de assentamentos ancestrais. Cerâmica marajoara também é indicador do grau de complexidade dos povos amazônidas pré-coloniais

por Antonio Fausto

“Gramática de assentamentos”. Assim, o arqueólogo Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida, definiu a complexidade que caracterizou as sociedades indígenas que habitaram a região do Alto Xingu, na Amazônia Meridional, antes da chegada dos europeus, durante apresentação no I Encontro Internacional de Arqueologia Amazônica (EIAA), realizado pelo Museu Goeldi, em Belém.

“Variações em Sociedades Complexas: Exemplos da Amazônia Central e Meridional” foi o tema da palestra do pesquisador norte-americano, proferida durante a mesa-temática “Sociedades Complexas Antigas e a Complexidade Social na Amazônia”. Especialista na região do Alto Xingu, na Amazônia Meridional, Heckenberger mostrou evidências que apontam para uma complexa singularidade das tribos indígenas pré-históricas dessa região. “Certas características não cabem no que já é conhecido da cultura de povos de floresta tropical”, assinala.

Segundo o arqueólogo, escavações realizadas na área do Rio Xingu evidenciaram a existência de “sociedade inesperadamente complexa e inesperadamente amazônica”. Heckenberger acredita que essas populações viviam em conjuntos de assentamentos, todos bastante planejados, que estavam protegidos por muralhas e interligados por estradas, estruturas que terminaram por causar “transformações ambientais drásticas”. “Você entra numa aldeia do Xingu por estradas formais”, afirma.

“O impacto no solo é incrível”, afirma o arqueólogo cujas pesquisas atestam a existência de assentamentos de pequeno, médio e grande porte na região do Xingu durante a era pré-colonial. “Havia uma grande diversidade cultural e lingüística”, assinala, complementando que “a maioria das cidades complexas eram multi-étnicas”.

Ele encerrou sua apresentação no Encontro em Belém, afirmando que os assentamentos xinguanos apresentavam feições nítidas de cidades regionais que existiram em outras regiões do mundo. “A arqueologia tem que tentar entender a complexidade dessas cidades”, propõe. Também na palestra “Variações em Sociedades Complexas: Exemplos da Amazônia Central e Meridional”, Eduardo Neves, pesquisador do Museu de Arqueologia e Etnologia, da Universidade de São Paulo (USP), discorreu sobre o modo de vida dos indígenas que habitaram a confluência do Rio Solimões com o Rio Negro, na Amazônia Central, nos primórdios da história do norte brasileiro.

Arte como termômetro de complexidade social – Não são somente estradas e muralhas que atiçam o termômetro da complexidade social. Prova disso foi a apresentação da estudiosa Cristiana Barreto, do Museu de Arqueologia e Etnologia, da USP, que mostrou como a cerâmica elaborada pelos amazônidas ancestrais, que geralmente era utilizada em cerimônias ritualísticas, também pode indicar o grau de complexidade social dos indígenas que não chegaram a conhecer o europeu.

Munida de imagens de vasos, bandejas e urnas funerárias, Barreto revisitou a cerâmica arqueológica da Amazônia, particularmente alguns objetos rituais da cerâmica marajoara, para determinar o nível de complexidade social das sociedades amazônicas pré-coloniais durante a palestra intitulada “Cerâmica, Ritual e Complexidade Social na Amazônia Pré-Colonial”.

Na opinião da pesquisadora, “é possível recuperar valores ideológicos e simbólicos a partir da estética e simbologia” das peças com fins ritualísticos. O objetivo da palestra, segundo Barreto, foi “caracterizar alguns estilos e técnicas típicos de sociedades que passam por rápidas transformações em suas estruturas sociais, mas que mantêm crenças e valores espirituais extremamente arraigados em seu passado e mundo ancestral”.


Texto de Antonio Fausto, para a Agência Museu Goeldi.
retirado do site: http://www.museu-goeldi.br/09_09_08.html
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