11.5.06

Cap. 2º - Onde se espera que nada mais aconteça

cada vez mais frio: é hora de ensaiar mais um pouco...

o breu lá fora é como uma enorme parede negra. como muros que cerrassem minhas janelas, como estar soterrado no ar enfumaçado, no escuro do futuro, do tempo incerto que corre veloz contra os meteoros e discos. todos estão fugindo do caos iminente, galáxias em formação se separam rumo o infinito de solidão e desesperança. mas ainda há de passar essa maré, tudo se voltará para dentro, como um cobertor que se volta sobre si mesmo, como alguém com frio que se enrola no meio da noite, e volta a entreabrir os lábios sobre o lençol; e nesse cobrir levasse todo universo a se cumprimentar uma última e centrifugante vez. é o sono de Deus que nos envolve, o mesmo sonho iluminado que nos criou e mantém. e todos, sem exceção de partícula alguma, de gelo ou minério bruto, nos fundiríamos num ponto qualquer, um centro qualquer - donde partir, repovoar e reconstruir outro Universo seria mister, seria urgente, seria irreversível.

penso no dia em que não mais estenderei os dedos para te lançar oferendas. sequer conjurar improvisos e desvios. serei eu mesmo, quase fetal, os braços cruzados sobre o peito (ninguém diria coisa dessas), com o pó conjugando.

lembro da amarelinha de Cortázar: ele dizia de formigas e um tipo simiesco que se perdia em observá-las. nem sei ao certo seu nome, mas poderia chamar-se como o livro que ainda hei de escrever, um dia. "Heart Shell", eis o nome. Porque o inseto leva sua vidinha tatibitate, canhestra, com entrega inédita e quase imprudente. Mas o hominídeo..!

sei que o vento levará também estas. Então bocejo, pestanejo - e me calo.
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...just someone playing hard.