8.9.09

Lígia.

Pudera: Inominável.

Prefiro calar. Ou antes, revelar o fragmento que me sobrou, rascunhado no verso dum cupom fiscal de jantar em sua companhia:




Faço pensar em tua flor secreta
Tua flor discreta e solitária
Tua inflorescência sem jardim
Que me devora o caule
E o caulim.



...e '.'

Dora.

devotada. olhando pedindo, calando a voracidade de um amor pagão que ali encontra a natureza linear de uma dona de ângulos simples. olhando bolinando, contraindo um sorriso campestre com cheiro de capricho, de maldade ingênua, de pecado de chita. de terra vermelha.

ela cala quando não pode mais, e busca na mirada dalgum lugar alhures a solução que não virá. e depois me procura, e esconde o rosto no labirinto de meus braços entrelaçados.

mas não se demora em buscar minhas mãos e encaminhá-las com insistência à raiz da fúria guardada e discreta. não se demora e faz-se prostrada, escrava temente, passiflora demente, a mera. não se demora e...

...e depois se aquieta. não fuma porque não sabe se perder. não bebe porque não conhece os abismos da alma. emudece e drome-negrita.

devotada. quisera um mundo simples como sua alma, adocicada como os arbustos de macela das encostas mantiqueiras.

Brunna.

nem mesmo as horas de um dia se passaram e já sinto tua ausência. ainda trago o cheiro do teu erotismo nas mãos, e a memória de tuas carnes na ponta dos dedos. desenho no ar os convexos onde encaixei minhas palmas, as polpas onde cravei os dentes.

é fato: esse teu olhar mortiço me evoca distrações de reis de outrora, cada vez que te acho me fitando - e mais de uma vez aconteceu, em sua cama improvisada, na casa de vãos ecoantes em que moras.

teu simplesmente me confunde, por vezes - eu, tolo, achando que simplesmentes não podem acontecer à sua juventude - que traz a redundância de suas vontades secretas no nome, e dobra uma letra que não se pronuncia. tal qual ela se dobra feito gata, e me oferece a flor depois do amor da manhã, e me provoca com dengos e deixas, entre sussurros e estalos dos lábios.

e como não dizer: da fúria calculada com que me presenteia, e sorri, feliz por deixar sua marca em mim - como a uma possessividade disfarçada, um somente-dela a quem me surpreenda desvestido (e isso soa como sinal de alerta às posteriores, que desistam desta alvura lunar, pois que aí uma debutante ninfa se alojou e garantiu colheita - e desta não pretende partilhar).

enfim, é tarde para o resto todo - resto que me racionaliza, e amanhã me espera na labuta - então findo este registro aguardando a cheia ou a lua negra: o que antes me traga novos folguedos de cama e aproximações, mais o calor providencial e este teu olhar cúmplice, cereja que me animaliza o espírito, e exorciza em ti minhas iras secretas.
Daí que pensei numa história simples, porém engenhosa. E trará o seguinte: mulher de olhar laminoso e vontades suplicantes (mais o trejeito fino de zerar com máxima sapiência a pança monetária de qualquer um) se envolve com figura dum passado esquecível. Note: esquecível não é redenção de nada, e os mortos voltam pra puxar o pé do gajo, que escapole da área e vai sapear lá pras bandas do fim do mundo. Nada muito explicado, porque a vida acontece assim mesmo, de improviso e de breque. Sem endereço nem paradeiro certo. Enfim.

A dita se lamenta, se rasga (nem tanto que não sobre algo par'o providencial "mistério da carne") e depois vai caçar noutra jaqueira. E tanto faz que acha outro jaca, se enreda toda e recomeça sua teia.

Mas! o condenado volta, e não é que era um fidaputa abotinado, de tocaia, de olhar soslaio? Pois aí ele revela sua verve e manda ver - com a polpa aberta, pegada bruta e surda. O lance é que rolou um sentimento e o bocó acredita no miserere da coitadinha, e ela dirige toda a reiva dele pro outro pagador, de modo que o circo pega fogo mas o show não para: resta o salário do medo na mão da bonitona e os galos se estraçalham na arena, antes mesmo que qualquer explicação seja possível (na época em que rola a transa não havia celular ainda, essa praga destruidora de complexidades narrativas teledramatúrgicas - leia-se "malentendidos funcionais" que só se resolverão no fim e ao cabo de tudo).

Mas ainda fica faltando o gran finale, e essa eu conto no próximo bloco. Não saia daí!

Hare Caraca!


Finda-se mais uma baboseira televisiva. Contorçam-se Shivas e Ganeshas! Vai-se maniqueísmo, vão-se as superstições medievais daquele povo do meio-leste, esvaiam-se as guirlandas de cravos e gérberas (sempre gostei dessa palavra, "gérbera", soa tão complexa - vai que escrevi errado - , meio maledicência em algum dialeto cigano balcânico; e tanto faço que tasquei-a aí, sim senhor), shanti, shanti--e-e-e-e-eêê... ô-ô!

...Deve ser o doce de abóbora que eu comi.



imagem de Robson Ventura para Folha Imagem. seu uso aqui é meramente ilustrativo e não-comercial.
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