25.9.23

Na encruzilhada, um desafortunado encontro.

Ao longe divisei o gemido dos seixos soltos, mastigados ao seu caminhar displicente. Era noite de lua negra, lua ausente, noite espessa. Caminhar pelo breu era como empurrar um cobertor com a cara e os pés temerários. O vulto nem sequer reduziu a passada, senhor de seu rumo. Pensei em salteadores, insones, atormentados, guardando ao sorrateiro desconhecido um juízo que forasteiros receberiam em qualquer vila poeirenta. Mas eu precisava me assegurar de sua natureza.

No escuro, atirei três pedras, uma após a outra.

A primeira para o ladrão, que toma para si o que não requer esforço nem astúcia.

A segunda para o oportunista, que rouba como o ladrão se puder e cujo ardil resume-se à circunstância, pois tampouco persevera.

A terceira atirei ao andarilho, a quem também nada pertence, e está sempre só de passagem, pois há tanto tempo está no caminho que este tornou-se seu lar.

Para meu espanto, o tipo não moveu uma fibra, não se esquivou nem foi atingido. Não devia ser nenhum dos três, admiti para mim mesmo. Por exclusão, provava-se parte do quarto grupo, cujo nome pouco se menciona na gesta e nas canções, pois raros são aqueles que lhes cruzaram os caminhos e ainda estão entre nós para testemunhá-lo.


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