30.4.10

Deveras...

Menos por você do que por mim, menos por eles do que pelos outros, quando eu e os outros não nos conhecemos e assim sem raízes e sem memória tudo fica mais fácil e ligeiro, eu aperto o botão que limpa e esclarece, que simplifica e arredonda, que torna límpido porque esvazia, já não é mais água e sim vazio, onde existia água existe apenas o azulejo frio agora, e cair já não parece boa idéia, e mergulhar se tornou um sonho distante e evanescente, remanescente, maledicente, onde não sei se se mente, ou apenas se esquece o que é importante pelas beiradas, e o que nos resta é a sensação de já ter visto, de já ter amado, de já ter respirado uns tantos cheiros, soçobrado o coração de respirações entrecortadas de expectativa, em dias idos, em invernos apagados, de sacolas plásticas esvoaçantes num balé moderno de renegada elegância, duas eternidades plásticas bailando num pé de vento para o enfoque preciso da câmera nova do menino solitário da janela em frente.

Eu tenho todas as respostas quando menos preciso delas, tenho o péssimo costume de olhar para trás quando você apenas olha para a frente e essa frente é além do que meus olhos são capazes de captar no horizonte disposto à minha nuca, porque ouço de todos aquilo que sempre soube de mim mesmo, mas que guardei no sótão ecoante de cantos empoeirados e displicentemente abandonado à própria sorte de ouvir a rotina da casa sem poder-lhe estender as mãos, sem poder tomar-lhe coisas, sem conspirar para que as tampas de caneta e os botões e as peças pequenas que crianças não deveriam colocar na boca, uma meia desparceirada e também uma bola de tênis e um clipe de papel e um olho de acrílico e um tufo de pelúcia se percam nas frinchas e frestas e frisos rangentes dessa pequena e modesta casa em um subúrbio metropolitano.

Um comentário:

Lu Hilst disse...

ué??? e o bobo na casca do ovo? disistiu? não era aqui?

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SAO, SP, Brazil
...just someone playing hard.