1.3.10

De uma simetria que não compreendo.

não seria errado supor que a ordem natural das coisas fosse mesmo o caos - e mesmo sob a aparente normalidade, sob o padrão evidente de tudo, da rotina do semáforo que eu observava do carro, sob a chuva que agora escorria compassadamente das calhas e beirais, do quase silêncio que intercalava o trânsito ralo de indiferentes transeuntes pelo molhado - lá estava ele, como um capo inatingível, senhor do pedaço, do bairro, da estratosfera.

a sonolência vencia aos poucos. hipnótica. e tinha ainda o conforto dos pés secos. me encolhi mais um pouco, como querendo puxar as mangas da carne e sumir a cabeça dentro do casco. os dias são desiguais, pensei. dias seguidos de fúria. dias intermináveis de lassidão. momentos raros de compaixão e alguns segundos quinzenais de felicidade sincera. culpa do caos - concluí.

e assim aos poucos o cansaço venceu. me debati, juro, mas foi mesmo em vão. um ato falho, talvez, até. como os livros que nunca li. sabe aquele clássico? nunca li. aquele outro, incontornável? nunca lerei. não é descaso: é que minhas células estão morrendo desde que nasci, e choramingam alimento durante toda a sua vida. em algum momento, um claquete piscará na minha frente, anunciando o fim do show para mim. e os clássicos? - imagino o Criador perguntando - folheou bastante? anotou nas margens? arrancou as páginas principais pra ler depois?

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