18.5.06

Cap. 6º - Onde se conta uma só história - em dois tempos

e porque me sinto às vezes como um animal irrefreável, um touro enjaulado, prestes a ser lançado na arena, é que estranho - verdade seja dita - como isso ainda não despertou uma figura "minotáurica" no meu espelho, quando com ele componho nosso face-to-face, toda manhã. verdade que nem mesmo posso evocar a falta de substância que me cerca, como exemplo de possível desvirtuamento, isso lá é. substância tem sido um capricho que meu bem querer tem tomado em sua atenção de honra, então seria eu, gritando, na cajadada desferida contra o próprio pé.

não, não, não. resta a mão estendida à bolachada.

(...)

há dias em que perco o fio. este novelo só consegui desatar hoje, 3 dias após o início deste novo capítulo - modo como resolvi chamar esses monólogos sem pé nem cabeça que aqui apresento ao saborear alheio.

acabo de ver Monk tocando a minha (e de muitos) preferida: 'Round Midnight. Ele com o quarteto, numa gravação que deve ter pelo menos umas 2 idades minhas, mas que permanece vanguarda pura, na essência. E, por outro lado, extremamente formal: certos valores o barbudo nunca abandonou. nem eu.


queria entrar, nesta noite, no barracão com Thelonious e as granadas sobre o piano, o general amordaçado num canto e aquela simpática vaca de presépio ao fundo. queria ir fundo na sua música, chorar com ela, dançar como ele. queria sentir o gosto do carvalho nos vinhos, e de framboesa, de baunilha, de madeiras mais exóticas e frutas menos conhecidas. ouvir a música que só os físicos ouvem, com suas composições de universos possíveis. queria, na verdade, comungar com o espírito dos naufragados: todos os homens que deram suas vidas pela arte, pelas ciências, por honrar o dom a que nem centenas de enormes parabólicas, voltadas às profundezas gélidas do espaço exterior - ininterruptamente - conseguiram encontrar eco: a inteligência.

dentre tudo que ocupa espaço e perfaz significação aqui, nessa dimensão, só nós podemos ouvir e compreender a Verdade. e isso diz tudo (agora vou voltar ao Monk, presente da Melissa-de-Itapuã a este inveterado amante dos deslocamentos complexos do ar).

Nenhum comentário:

Minha foto
SAO, SP, Brazil
...just someone playing hard.