não, não, não. resta a mão estendida à bolachada.
(...)
há dias em que perco o fio. este novelo só consegui desatar hoje, 3 dias após o início deste novo capítulo - modo como resolvi chamar esses monólogos sem pé nem cabeça que aqui apresento ao saborear alheio.
acabo de ver Monk tocando a minha (e de muitos) preferida: 'Round Midnight. Ele com o quarteto, numa gravação que deve ter pelo menos umas 2 idades minhas, mas que permanece vanguarda pura, na essência. E, por outro lado, extremamente formal: certos valores o barbudo nunca abandonou. nem eu.

queria entrar, nesta noite, no barracão com Thelonious e as granadas sobre o piano, o general amordaçado num canto e aquela simpática vaca de presépio ao fundo. queria ir fundo na sua música, chorar com ela, dançar como ele. queria sentir o gosto do carvalho nos vinhos, e de framboesa, de baunilha, de madeiras mais exóticas e frutas menos conhecidas. ouvir a música que só os físicos ouvem, com suas composições de universos possíveis. queria, na verdade, comungar com o espírito dos naufragados: todos os homens que deram suas vidas pela arte, pelas ciências, por honrar o dom a que nem centenas de enormes parabólicas, voltadas às profundezas gélidas do espaço exterior - ininterruptamente - conseguiram encontrar eco: a inteligência.
dentre tudo que ocupa espaço e perfaz significação aqui, nessa dimensão, só nós podemos ouvir e compreender a Verdade. e isso diz tudo (agora vou voltar ao Monk, presente da Melissa-de-Itapuã a este inveterado amante dos deslocamentos complexos do ar).